VIVE AS LETRAS!
Magazine da Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra
N.º 16, 2.ª série, outubro de 2025
EDITORIAL
Albano Figueiredo
1. A FLUC iniciou o seu novo ano letivo (2025/26) com resultados de novo muito sólidos no Concurso Nacional de Acesso ao 1.º Ciclo e também globalmente relevantes nas candidaturas a mestrados, doutoramentos e cursos não conferentes de grau. A semana de integração e acolhimento de novos/as estudantes de 1.º Ciclo (8 a 12 setembro), a sessão de abertura do ano letivo (25 de setembro) e a comemoração do Dia Europeu das Línguas (26 de setembro), iniciativas fortemente participadas, demonstraram, como vem acontecendo, o dinamismo de toda a comunidade FLUC.
Setembro e outubro ficaram igualmente marcados pela realização na nossa Faculdade de diversas iniciativas científicas e culturais de grande qualidade, reunindo docentes, investigadores/as e estudantes, da FLUC, da UC e de todo o mundo. Continua a sentir-se o pulsar manifesto, cada vez mais forte, das Letras no contexto atual e isso reforça o ânimo e, do nosso ponto de vista, consolida na UC a importância das Humanidades, das Artes e das Ciências Sociais.
2. Iniciamos agora um terceiro mandato (2025-27), com muitos desafios que, como sempre, encaramos com entusiasmo e serenidade. Pessoas e Reforma da Oferta Formativa de 2.º e 3.º Ciclos são de novo desígnios cimeiros.
Prosseguirá o ritmo que vimos tendo no lançamento de concursos para recrutamento de professores/as auxiliares e estamos já a preparar o necessário para o lançamento de concursos para outras categorias, bem como para o recrutamento de novo pessoal não docente.
Muito queremos também continuar a trabalhar no incremento do número global de estudantes da FLUC. O bom momento das Letras nas sociedades portuguesa e europeia é propício e, até aos limites do possível, envidaremos esforços para o conseguir. De resto, ao NEFLUC (Núcleo de Estudantes) é devido o habitual apoio ao trabalho desenvolvido e que em muito contribui diariamente para a vitalidade da nossa Faculdade.
3. Reforçaremos igualmente os nossos estratégicos ‘três III’: Investigação, Internacionalização e Inovação.
Este será um tempo muito importante para o desenvolvimento dos trabalhos dos nossos centros de Investigação, que continuaremos a apoiar fortemente, envolvendo mais estudantes de pós-graduação.
Por outro lado, aprofundaremos o investimento na Internacionalização, suportando o contínuo estabelecimento de redes, a projeção global de resultados científicos e a integração de docentes, investigadores/as e estudantes em bases de obtenção de financiamento competitivo. Não esqueceremos nunca o papel central da Língua e da Cultura Portuguesas em todo este processo, para mais quando em breve (27, 28 e 29 de novembro) terá lugar na FLUC o congresso internacional “Ensinar Camões no Século XXI”, iniciativa que desde já destaco.
Inovação continuará a ser igualmente um nosso marco, quer nos grandes projetos como nas coisas mais simples do dia a dia. Seremos mais um elemento, a esse nível, da dinâmica da nossa Universidade, transferindo conhecimento, prestando serviços a instituições e empresas, incrementando a transformação digital e aproximando a Faculdade do público mais amplo de toda a Universidade e externo. Acabamos de inaugurar um pioneiro Centro de Estudos Árabes e de abrir um novo curso não conferente de grau de Língua Coreana, num ano em que estamos a celebrar os 20 anos do nosso Centro de Línguas. É esse o caminho que queremos continuar a trilhar.
4. Não quero, por fim, deixar de referir o investimento que continuaremos a realizar na preservação do valiosíssimo património imaterial e edificado da FLUC, neste último caso quer no edifício central, com já setenta anos e que segue resistindo relativamente bem, quer sobretudo no contínuo melhoramento das condições de trabalho no Colégio de S. Jerónimo – que conhecerá em breve investimentos avultados – e no Palácio Sub-Ripas – em que avançaremos com a elaboração do projeto de requalificação da belíssima fachada.
5. E porque a FLUC é sempre movimento, convido-o/a a ler o n.º 16 desta 2.ª série do Magazine Vive as Letras!, publicação trimestral que, como sempre, pretende dar a conhecer pessoas, projetos e espaços da nossa Escola.
A todos/as desejo a continuação de excelente ano letivo de 2025/26!
CONVERSAS NA BIBLIOTECA
João Figueira
João Figueira, do outro lado da mesa
O começo do novo ano letivo também trouxe mudanças para o Magazine “Vive as Letras”. Nesta edição de “Conversas de Biblioteca”, Ana Filipa Paz e João Figueira invertem papéis para uma reflexão sobre os novos desafios da informação, o papel das instituições de ensino e a responsabilidade de formação de jornalistas “com sentido crítico”.
Com a atual crise do jornalismo como pano de fundo, o Professor Jubilado de Jornalismo e Comunicação defende que é “sem baixar a fasquia” que o jornalismo cumpre o seu serviço para com a comunidade, uma ideia presente, sob pretextos diferentes, nos quatro livros que trouxe como sugestão de leitura.
Aos recém-chegados estudantes de Jornalismo e Comunicação, deixa uma mensagem:
“ O jornalismo tem de ser um «criador de humanidades», tem de estar do lado do sentido mais nobre do ser humano”.
GENTE DAS LETRAS
Susete Araújo
O percurso de Susete Araújo na FLUC começa a 3 de fevereiro de 1992. Traz as datas todas apontadas num papelinho para a nossa conversa, mas a memória não lhe falha: “Vim coordenar o Gabinete de Gestão e Contabilidade, até 31 de outubro de 2002. Depois saí em novembro e estive 11 anos fora da FLUC”. Nesse período deu aulas, um desafio que recorda com carinho, mas que terminou com a notícia de que regressaria ao seu lugar de origem.
Licenciada em Economia, Susete sempre soube que a sua casa eram as Letras, e a decisão de regressar não foi difícil. “Voltei para trabalhar diretamente com a Direção da Faculdade”. Além de outros trabalhos, está responsável pela monitorização de planos de ação da Faculdade, pelo plano de combate aos riscos de corrupção e pelo secretariado dos órgãos de gestão, sendo também a gestora da qualidade.
“Motiva-me tudo no meu trabalho. Motiva-me o facto de aquilo que eu faço não ser monótono e poder exercer muitas funções”, conta. Na FLUC, “todas as pessoas são importantes”, comenta, “desde a senhora que faz a limpeza da Faculdade a quem a dirige”. A missão que os une é a de garantir “a boa estada dos estudantes”, desígnio que inspira também o trabalho de Susete Araújo.
Além de tudo isto, a Faculdade, para a trabalhadora e mãe de um casal, é também um lugar de afetos: “Quando entrei aqui em 1992 já tinha o meu filho mais velho, e lembro-me com muito carinho o quanto ele adorava vir às festas de Natal organizadas para a comunidade FLUC”, lembra. “Havia sempre prendas para os filhos dos trabalhadores, fossem docentes ou não docentes. Ai a festa que era!”, ri. “Depois veio a minha Raquel e também adorava”.
A FLUC é, para muitos funcionários, o lugar onde passam mais tempo. Articular o trabalho e a família exige uma grande ginástica, mas quem corre por gosto não cansa. E Susete Araújo é prova disso mesmo: “Sempre gostei tanto de trabalhar e daquilo que faço na Faculdade que, quando a minha filha nasceu, nós tínhamos quatro meses de licença de parto, e eu, ao fim de três meses, pedi autorização para vir trabalhar, tinha saudades!”.
A sua dedicação é exemplar, e nunca compromete a vontade que tem de aprender e fazer mais. É também na FLUC onde dá continuidade ao gosto por aprender novas línguas, depois do trabalho. “Comecei este semestre no japonês, a professora é excecional”, diz.
Fora das aulas, vai ao ginásio e dedica sempre um fim de semana para ir à praia. “É onde me sinto bem, a ler a tarde toda, sentada ao sol”. O mar é a sua verdadeira paixão.
VIDAS DE ESTUDANTE
Universidade de Verão
Entre 27 de julho e 1 de agosto, a FLUC abriu as portas a 30 estudantes do Ensino Secundário, que puderam assistir a palestras, participar em workshops e em atividades culturais.
A iniciativa, organizada pela Universidade de Coimbra, pretende dar a conhecer a instituição e a cidade, imersa em cultura, conhecimento e memória. Na Faculdade de Letras, os jovens puderam, ao longo de uma semana, participar em muitas atividades, e descobrir as oportunidades de estudo e tudo quanto a nossa comunidade tem para oferecer.
A escolha foi óbvia para estas três participantes da Universidade de Verão (UV), que se matricularam este ano na FLUC: Salomé Marcelo em Estudos Europeus, Luísa Mota Vaz em Línguas Modernas e Cátia Pinho em Jornalismo e Comunicação. As estudantes decidiram dar continuidade ao seu percurso académico na área das Humanidades e Ciências Sociais e, embora sigam cursos distintos, partilham o entusiasmo pela aprendizagem e o desejo de participar nas diversas atividades que a FLUC promove ao longo do ano.
Salomé Marcelo
Não é a primeira vez que Salomé se senta nos anfiteatros da FLUC. Uma bolsa de estudos ofereceu-lhe a inscrição na UV, e uma semana foi suficiente para a deixar rendida às Letras. “A minha primeira opção já era vir para aqui, a UV só veio provar isso”, conta. Este ano, matriculou-se na Licenciatura em Estudos Europeus, e ficou um passo mais próximo de seguir a sua profissão de sonho. “Este é um percurso muito pessoal, nosso, principalmente porque a Faculdade nos permite o envolvimento em vários projetos extracurriculares que também sejam do nosso interesse”.
Salomé é de Vila Nova de Poiares e sempre quis estudar em Coimbra. “Ter vindo à UV permitiu-me tirar algumas dúvidas que tinha em relação à inscrição e ao plano de estudos”, recorda, “aprendemos muita coisa”. Além de fazer novas amizades, que mantém até hoje, também se “habituou a subir e a descer as Monumentais”, brinca, terminando com um elogio à comunidade das Letras, da qual agora também faz parte.
Luísa Mota Vaz
Desde o 10.º ano, Luísa já sabia que queria estudar na FLUC. Participou na Universidade de Verão (UV) durante três anos consecutivos, experiência que lhe deu a oportunidade de experimentar áreas diferentes, mas não mudou de ideias. “Sempre soube que queria ir para Línguas Modernas, mas fui incentivada pelos meus pais a vir conhecer a Faculdade e, aí sim, fiquei sem dúvidas”, comenta.
A experiência na UV permitiu-lhe “perder algum medo” que tinha em relação à cidade e ao Ensino Superior. Este ano, quando regressou, estava num espaço que já conhecia, e sentiu-se “segura”. Luísa vive a 40 minutos de Coimbra, mas acredita que, “para quem é de mais longe, a UV é o momento ideal para resolver alguns receios e conhecer melhor a Faculdade”.
Cátia Pinho
Cátia vem de Arouca. Visitou Coimbra pela primeira vez em 2023, quando participou na Universidade de Verão. Os workshops de “Escrita Criativa” e “Falar em Público” esclareceram qualquer dúvida que ainda restava sobre seguir o percurso na FLUC, em Jornalismo e Comunicação.
"O que mais me cativa é a flexibilidade de escolha dos conteúdos no programa curricular, porque me permite aprofundar outras áreas pelas quais me interesso”, diz. Nos próximos três anos, espera poder “aprender cada vez mais”, envolver-se noutros grupos e conhecer pessoas novas.
A vida associativa já lhe abriu mais uma porta, a do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA, no qual Cátia se inscreveu, à procura de complementar o seu percurso académico. As opções e os desafios são infindáveis, e a estudante está “muito entusiasmada” para os descobrir nesta nova jornada.
HOJE INVESTIGO EU
Sérgio Dias Branco
Encontro-me atualmente em licença sabática — uma pausa letiva que tem sido, na verdade, muito ativa no plano da investigação, como deve ser. Neste tempo, tenho aprofundado um tema inserido numa questão mais ampla que tem guiado grande parte do meu percurso como investigador e docente: de que formas o cinema expressa diferentes mundivisões? O tema que hoje me ocupa é, mais especificamente, o das relações entre o cinema e a religião. Investigo como o cinema — essa arte do olhar e da escuta — nos pode ajudar a enfrentar os desafios espirituais e sociais do nosso tempo: a diversidade religiosa, o conflito, o desejo de diálogo num mundo onde, tantas vezes, se fala alto e se escuta pouco.
Como docente da Faculdade de Letras e investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra (CEIS20) — duas casas das Artes e Humanidades que partilham um mesmo espírito de curiosidade e abertura à experiência humana, à cultura, às formas simbólicas, às expressões criativas e aos modos de sentido através dos quais entendemos e representamos o mundo — aprendi que pensar é partir de uma disciplina, mas não encerrar-me nela. Pensar, afinal, é atravessar fronteiras: entre a arte, a teologia e os estudos religiosos; entre a estética e a ética; entre o visível e o invisível. Esse impulso interdisciplinar é o que me guia — o de compreender como o cinema pode ser, ao mesmo tempo, espelho e ponte.
O cinema interessa-me, sobretudo, porque encarna. É feito de corpos, de luz, de movimento, e de tempo — de tudo o que nos recorda que a experiência humana é, em simultâneo, material e espiritual. Alguns filmes tornam-se verdadeiras orações em imagens: formas de atenção ao mundo e às suas feridas. É por isso que o meu trabalho tem procurado compreender como o cinema nos ensina a ver o sagrado no quotidiano, a transcendência na matéria e a possibilidade de reconciliação na diferença.
Tenho-me concentrado em três projetos que deverão dar origem a livros em língua inglesa, atualmente em diferentes fases de desenvolvimento — do mais ao menos avançado. O primeiro é dedicado ao cinema e à estética da encarnação. Parte da ideia de que o cinema é uma arte privilegiada para explorar a tensão entre imanência e transcendência, articulando a noção de presença com os conceitos de graça e de sacramento, a partir de uma abordagem fenomenológica e plurirreligiosa. O segundo centra-se no cinema, na religião e na superação da violência. Analisa as representações cinematográficas de conflitos religiosos e os processos de pacificação e reconciliação, propondo o cinema como uma verdadeira escola de paz, fundada numa apreciação artística em que a empatia e a memória abrem caminho à reconciliação. O terceiro examina e expande o contributo do cinema para o diálogo inter-religioso. Procura formular metodologias para compreender o cinema como território de encontro entre diversas tradições de fé, ampliando o olhar e desarmando preconceitos.
Estes projetos ligam-se diretamente ao trabalho que coordeno na FID: Film and Interreligious Dialogue, sediada no CEIS20. A FID é uma rede internacional de investigação que reúne membros interessados em estudar a dimensão cinematográfica da religião e em aperfeiçoar o cinema como espaço de diálogo. Desenvolve investigação que procura fortalecer a igualdade cultural e religiosa, articulando-a com questões étnicas, de género e raciais. Através de sessões de cinema, debates, conferências, seminários, publicações, ações pedagógicas e outras atividades, a FID procura fazer do cinema um idioma de convivência — um lugar onde a diferença se reconhece sem se anular.
Tenho procurado fortalecer os laços internacionais nesta linha de trabalho, colaborando com instituições como a Duke University, nos Estados Unidos, onde estive recentemente dois meses como investigador visitante. Visitarei outras instituições na Irlanda, em Espanha, e em Itália, num esforço que não se mede apenas em publicações ou na expansão de redes de contacto, mas em conversas demoradas, ideias partilhadas e encontros improváveis — passos de um caminho que pensa o cinema como uma arte que coloca, no centro da sua expressão, a hospitalidade e a alteridade.
Sérgio Dias Branco é Professor Associado do Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes.
MUNDIVISÕES
Humanidades em crise: a mundivisão de Alcir Pécora
A visita do professor brasileiro Alcir Pécora, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi marcada pela reflexão sobre o lugar das Humanidades no mundo contemporâneo e pelo lançamento de um livro dedicado ao padre António Vieira, publicado na Coleção Humanities, sob a direção da professora Maria de Fátima Sousa e Silva. Em conversa para a rubrica Mundivisões, Pécora traçou um diagnóstico contundente: o esvaziamento progressivo do ensino e do valor social da literatura.
“Hoje, no Brasil, a literatura praticamente desapareceu dos cursos de Letras”, afirmou. “O ensino que resta é ilustrativo de temas gramaticais ou sociológicos, a literatura tornou-se ornamento.” Para o ensaísta e crítico, essa perda de centralidade é parte de uma crise mais ampla das Humanidades, cada vez mais preteridas por formações técnicas, pragmáticas e excessivamente focadas na empregabilidade.
“Essa convivência entre Brasil e Portugal através da literatura é um farol, mostra que as Humanidades não são uma porta fechada, mas uma forma de continuar a pensar o mundo.”
Pécora observa ainda uma “gentrificação” dos Estudos Literários nos países mais ricos, onde estudar Humanidades se tornou privilégio de quem não depende de trabalho imediato. “São cursos que parecem reservados a quem pode se dar ao luxo de não precisar de um emprego”, ironizou. A reflexão levou-o a partilhar uma anedota sobre um convite inusitado que recebeu de uma executiva brasileira para ministrar um curso sobre “a arte da conversação” numa fábrica. “Achei desafiador, mas impossível de aceitar. Eu ia ensinar cortesia para quê? Para os operários ficarem mais submissos?”.
Ao longo da conversa, o professor reconheceu que há esforços isolados — em universidades e centros de investigação — para manter viva a relevância crítica das Humanidades, mas considera que o movimento geral é de apagamento: “Ter uma instituição sólida, com pessoas inteligentes, a trabalhar e estudar, mantendo o pensamento vivo, é um conforto. Mas não é o movimento geral das coisas.”
A aula, a leitura e o prazer do inútil
Com 50 anos de docência na Unicamp, Pécora declarou que o seu maior prazer continua a ser dar aulas nas licenciaturas. “Gosto dos alunos que ainda leem por curiosidade, sem projeto. A literatura exige o gosto pelo inútil, pelo prazer de ler sem finalidade.” Para ele, o ambiente universitário, sobretudo nas áreas tecnológicas, sofre cada vez mais com o imperativo da produtividade. “Os estudantes já entram na universidade com a obrigação de publicar. Não leem mais para conversar ou por prazer, mas para cumprir metas.”
Entre os autores que ainda revisita em sala, cita Plínio Marcos, dramaturgo censurado durante a ditadura brasileira. “Ele foi o autor mais proibido do Brasil. Ver hoje como os jovens leem essas peças é uma experiência nova. Muitos nem sabem o que foi a ditadura”, comentou, relacionando o esquecimento histórico com o avanço de forças políticas autoritárias.
António Vieira e o Brasil Colonial
A presença de Alcir Pécora em Coimbra teve como motivação principal o lançamento do seu mais recente livro Mistérios dos Acasos, Doutrina da Ocasião. Ensaios sobre o Padre António Vieira, resultado de um trabalho iniciado há décadas e agora revisto e ampliado: “Era um livro que nunca tinha sido reunido num só volume. Reconstruí o original e acrescentei novas reflexões.”
Durante a visita, o professor também deu uma conferência sobre as letras coloniais brasileiras, centrada num manuscrito jesuíta raro, produzido na Bahia e hoje guardado em Itália. “Segui o rastro desse documento como um detetive”, contou. “Ele permite compreender um momento de transição dos jesuítas após a expulsão decretada pelo Marquês de Pombal, quando muitos se dispersaram por pequenas comunidades italianas.”
O Instituto de Estudos Brasileiros: um elo histórico
A conversa decorreu no Instituto de Estudos Brasileiros da Faculdade de Letras, que em 2025 celebra 100 anos de criação. O local acolhe a doação de António José Teixeira d’Abreu, professor monárquico saneado da Universidade de Coimbra durante a Primeira República e que, após prosperar no Brasil, retornou para doar parte dos seus rendimentos e uma valiosa coleção de livros. Para Pécora, o Instituto e a manutenção do seu acervo são claros sinais de resistência cultural num tempo de instabilidade. “Essa convivência entre Brasil e Portugal através da literatura é um farol”, afirmou, “mostra que as Humanidades não são uma porta fechada, mas uma forma de continuar a pensar o mundo.”
Entre o pessimismo lúcido e a esperança discreta, Alcir Pécora concluiu com um sorriso: “O mundo está caótico, imponderável, e talvez justamente por isso ainda excitante. Aos 70 anos, tudo é novo outra vez.”
MARCAS DAS LETRAS
Elisabete Bárbara
“Ao longo dos anos, tenho vindo a aprender a ser Professora. A FLUC ensinou-me a nunca deixar de ser aluna.”
Professora do Ensino Secundário e antiga estudante da FLUC, Elisabete Bárbara regressa, quase quatro décadas depois, à casa que a formou, confessando como a passagem pelas Letras moldou o seu futuro.
Doutorada em Estudos de Tradução, na especialidade de Teoria, História e Práticas de Tradução, recorda com emoção o “orgulho” de se matricular, pela primeira vez, na Universidade de Coimbra, em 1986, no curso de Línguas Modernas: um sonho “que sempre desejei enquanto estudante do ensino secundário”, confessa.
“Nunca me deixei estagnar e penso que esta minha curiosidade foi aprendida pela admiração que sentia – e sinto – pelo imenso saber e competência dos Professores que tive.”
Até 2014, ano em que concluiu o seu Doutoramento, fez da FLUC a sua casa académica e afetiva. Anos mais tarde, também a sua filha passou pelos mesmos corredores e anfiteatros, como estudante de Jornalismo e Comunicação. “Lembro-me de ouvir a minha filha, com apenas um ano e meio, aos saltos no corredor enquanto eu tomava nota das observações do júri sobre o meu trabalho [de Mestrado]”, recorda.
Hoje, a mensagem que Elisabete Bárbara deixa é a mesma que recebeu como aluna da FLUC: “Querer ir mais longe, crescer por dentro até ao fim, não deixar fechar a janela — e isso só se consegue com a força do Saber”.
“Nunca me deixei estagnar e penso que esta minha curiosidade foi aprendida pela admiração que sentia – e sinto – pelo imenso saber e competência dos Professores que tive”, reflete. Enquanto docente, Elisabete Bárbara leva consigo “a solidez e a exigência” da formação que ali recebeu, transmitindo aos seus alunos os valores de “rigor, trabalho e disciplina” que tão bem definem a marca das Letras.
PHOTOMATON
- Tomada de posse de novos professores catedráticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra: Lurdes Craveiro, Frederico Lourenço, Ana Luís e Ana Teresa Peixinho
- Provas de Agregação: Paula Barata Dias, Paulo Nossa, Isabel Camisão, Miguel Padeiro, Inês Amaral e Pedro Carvalho
- Universidade de Verão
- Semana de Acolhimento a Novos Estudantes
- Sessão de Abertura do Ano Letivo
- Dia Europeu das Línguas
- Sessão de receção aos estudantes do Curso Anual de Português para Estrangeiros
- 16th Celtic Conference in Classics
- VI Congresso Internacional de Neologia em Línguas Românicas
- 4.ª edição Fórum-Estudante de Estudos Clássicos e Humanísticos
- Simpósio “Leituras da Personagem” com Lídia Jorge
- Inauguração do Centro de Estudos Árabes
Lurdes Craveiro
Lurdes Craveiro
Frederico Lourenço
Frederico Lourenço
Ana Luís
Ana Luís
Ana Teresa Peixinho
Ana Teresa Peixinho
Paula Barata Dias
Paula Barata Dias
Paulo Nossa
Paulo Nossa
Isabel Camisão
Isabel Camisão
Miguel Padeiro
Miguel Padeiro
Inês Amaral
Inês Amaral
Pedro Carvalho
Pedro Carvalho
Universidade de Verão 2025
Universidade de Verão 2025
Universidade de Verão 2025
Universidade de Verão 2025
Sessão de acolhimento de novos estudantes
Sessão de acolhimento de novos estudantes
Sessão de acolhimento de novos estudantes
Sessão de acolhimento de novos estudantes
Sessão de Abertura do ano letivo 2025/2026
Sessão de Abertura do ano letivo 2025/2026
Sessão de Abertura do ano letivo 2025/2026
Sessão de Abertura do ano letivo 2025/2026
Dia Europeu das Línguas 2025
Dia Europeu das Línguas 2025
Dia Europeu das Línguas 2025
Dia Europeu das Línguas 2025
Sessão de receção aos estudantes do Curso Anual de Português para Estrangeiros
Sessão de receção aos estudantes do Curso Anual de Português para Estrangeiros
16th Celtic Conference in Classics
16th Celtic Conference in Classics
VI Congresso de Neologia das Línguas Românicas
VI Congresso de Neologia das Línguas Românicas
4.ª edição Fórum-Estudante de Estudos Clássicos e Humanísticos
4.ª edição Fórum-Estudante de Estudos Clássicos e Humanísticos
Simpósio "Leituras da Personagem" com Lídia Jorge
Simpósio "Leituras da Personagem" com Lídia Jorge
Simpósio "Leituras da Personagem"
Simpósio "Leituras da Personagem"
Inauguração do Centro de Estudos Árabes
Inauguração do Centro de Estudos Árabes
Inauguração do Centro de Estudos Árabes
Inauguração do Centro de Estudos Árabes
Inauguração do Centro de Estudos Árabes
Inauguração do Centro de Estudos Árabes
