VIVE AS LETRAS!
Magazine da Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra
N.º 13, 2.ª série, janeiro de 2025

SUMÁRIO
Editorial
Albano Figueiredo
Conversas na Biblioteca
Doris Wieser
Gente das Letras
Filipe Rodrigues
Vidas de Estudante
THÍASOS
Hoje Investigo Eu
Miguel Bandeira Jerónimo
Mundivisões
Francisco Sena Santos
As Marcas das Letras
Fernando Trindade
Photomaton
A FLUC em imagens
EDITORIAL
Albano Figueiredo

1. A FLUC desenvolveu ao longo do ano de 2024 uma intensa e notável atividade. Cumpriu assim plenamente a sua missão e continuou a robustecer o seu posicionamento como instituição de referência no panorama do ensino, da investigação e da produção e transferência de saber nas Artes, nas Humanidades e nas Ciências Sociais, congregadas na sua existência global como Faculdade de Letras.
Inicia agora o novo ano de 2025 com vários desafios estratégicos e estruturantes. Entre eles, há a destacar: (i) a conclusão dos concursos de recrutamento de seis novos/as professores/as auxiliares e de quatro novos/as professores/as catedráticos/as; (ii) o lançamento de sete vagas para promoção interna a categoria de professor/a associado/a e a preparação de novos concursos para recrutamento de professores/as auxiliares, professores/as catedráticos/as e investigadores/as de carreira; (iii) a preparação do recrutamento de três novos/as técnicos/as superiores e de novos/as assistentes técnicos e operacionais; (iv) a submissão efetiva dos processos de acreditação (que resultam da reforma e da criação) de um total de 12 cursos de Mestrado e de Doutoramento e a preparação da adequação de todos os cursos de Mestrado em Ensino ao novo Decreto-Lei que regulará a formação inicial de professores/as; (v) o início da concretização de um programa estruturado de requalificação da caixilharia do Colégio S. Jerónimo e de outros espaços deste edifício; (vi) e o lançamento de um novo concurso para a concessão, no piso 2 do edifício central, de novos serviços de reprografia.
São passos muito importantes para a vida presente da nossa Faculdade nos campos científico, pedagógico e logístico e para a consolidação de um futuro que queremos de constante rejuvenescimento, renovação e inovação.
2. Por outro lado, o Conselho Pedagógico já iniciou os trabalhos conducentes à elaboração de uma proposta de revisão do regulamento de avaliação de conhecimentos e em breve estará também a proceder à atualização da documentação estratégica sobre dinâmicas pedagógicas.
Como antes escrevi, torna-se muito relevante fazer acompanhar o balanço (que será lançado este trimestre pelo Conselho Científico) sobre os resultados de quase uma década da reforma da oferta formativa de 1.º ciclo e a antevisão da realidade da nova oferta formativa de 2.º e 3.º ciclos com novas propostas de inovação pedagógica e de avaliação de conhecimentos, a implementar, de modo transversal ou particular, nos próximos anos na FLUC.
3. Entretanto, está também em preparação a quarta edição do DIA ABERTO, com que assinalaremos, este ano em 29 de abril, os 114 anos da FLUC. A Direção, os Departamentos, as Secções, os Cursos, os Centros de Investigação, o Centro de Línguas e o NEFLUC desenvolverão atividades várias que, como vem sendo hábito, ao longo do dia projetarão o trabalho da FLUC no espaço global da UC e, sobretudo, na cidade e na região. Ao fazê-lo – relembro – estaremos a projetar as Artes, as Humanidades e as Ciências Sociais, áreas predominantes em que trabalhamos no seio da Universidade de Coimbra. De resto, março e abril serão meses de forte divulgação de toda a oferta formativa da FLUC, quer em território nacional (por exemplo, na “Qualifica”, no Porto, e na “Futurália”, em Lisboa), quer internacionalmente (“Salão do Estudante”, em várias cidades do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Recife). Naturalmente, a FLUC continuará a reforçar, de igual modo, a sua presença em muitas outras vertentes do espaço público.
4. Manteremos em 2025 a mesma atenção de sempre ao trabalho e ao percurso de todos/as os/as nossos/as estudantes e incrementaremos o apoio às suas iniciativas científico-académicas e culturais. Este será o ano em que, por exemplo, a FLUC disponibilizará aos/às seus/suas bolseiros/as de doutoramento FCT o valor complementar mais alto de sempre para as atividades de preparação das suas teses.
5. Quero, por sua vez, reiterar o meu forte agradecimento e reconhecimento a todos/as os/as docentes e investigadores/as que por estas semanas continuam a desenvolver trabalhos relacionados com a avaliação dos nossos centros de investigação por parte da FCT. Como venho dizendo, a qualidade e a quantidade de atividades e de projetos científicos que nos últimos anos por eles foram realizados, com inequívoca projeção nacional e internacional, dignificam e prestigiam a nossa Faculdade e a nossa Universidade.
6. Entre as muitas iniciativas previstas para este ano e que muito em breve serão anunciadas mais detalhadamente, realço, de novo, pela sua grande importância real e simbólica, as da comemoração dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões e as atinentes aos 700 anos da morte de D. Dinis. Será também o ano em que assinalaremos os 100 anos do nosso Curso de Língua e Cultura Portuguesas para Estrangeiros (1925–2025) e em que terão lugar, em julho, as primeiras “Jornadas Coimbra – Salamanca”. Todos/as estão convidados a participar.
7. E porque a FLUC é sempre movimento, convido-o/a a ler o n.º 13 desta 2.ª série do Magazine Vive as Letras!, publicação trimestral que, como sempre, pretende dar a conhecer pessoas, projetos e espaços da nossa Escola.
Um excelente ano de 2025 para todos/as!
CONVERSAS NA BIBLIOTECA
Doris Wieser


Doris Wieser: “É surpreendente o que se publica em Angola ou Moçambique”
Doris Wieser, de nacionalidade alemã, é responsável pela área das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde é professora auxiliar. Membro do Centro de Literatura Portuguesa da mesma instituição, onde coordena o projeto “Identidades nacionais em diálogo. Construções de identidades políticas e literárias em Portugal, Angola e Moçambique (1961-presente)”, conquistou o prémio FLUC – Ensino 2023.
Nesta primeira “Conversas na Biblioteca” de 2025, o diálogo está centrado na literatura pós-colonial, embora o conceito de teoria e literatura anti-colonial não pudesse estar ausente. Pela voz de uma grande especialista na área, viajamos pela África colonial portuguesa das Letras, evocando nomes centrais dessas literaturas, como Noémia Sousa e Luis Bernardo Honwana, ou autores mais recentes como Paulina Chiziane, João Melo e Mia Couto. E entre as várias descobertas que fomos fazendo ao longo da conversa, sobressai a ideia de que, apesar da língua comum que une tantas geografias, ainda desconhecemos, em Portugal, o volume e diversidade de obras que são publicadas nesses países.
João Figueira entrevista Doris Wieser
Uma conversa com livros na mesa
GENTE DAS LETRAS
Filipe Rodrigues
Hoje, é porteiro da nossa Casa e responsável pela manutenção do espaço. Já trabalhou no Jardim Botânico, numa cantina e na Biblioteca Geral, e, antes de chegar à FLUC, passou por vários departamentos e faculdades. Mas a relação de Filipe Rodrigues com a Universidade de Coimbra tem mais história para contar.
Natural de Coimbra e desde cedo familiarizado com a zona da Alta – onde morou quando era novo –, ‘recebeu’ a UC como uma herança familiar. Pais, avós, tias e irmãs fizeram cá as suas carreiras e, por isso, revela: “Desde sempre que a Universidade está na minha vida”. O pai trabalhava “na parte dos alojamentos dos serviços de ação social” e a avó era responsável pela preparação dos alimentos da cantina – trabalho que desempenha hoje a sua irmã. Uma das tias, Dona Paula, é, ainda hoje, empregada de limpeza na FLUC e as duas restantes também 'trabalham por aí’.
É, por isso, caso para dizer que seguiu os passos dos familiares e que, por cá, se sente em casa. Oficialmente, foi em 2004 que o caminho de Filipe se cruzou com o da UC – ou, neste caso, com os seus serviços de ação social. “Tive uma breve experiência numa cantina, como aprendiz de cozinheiro, mas não tinha jeitinho nenhum para aquilo”, relembra com leveza na voz. Então, foi transferido para o Centro Cultural D. Dinis – “um bar noturno” –, onde ficou até 2008, antes de se reorientar e trabalhar, “por mais uns anos”, na Casa da Pedra do Polo II. Só depois é que verdadeiramente começou “esta aventura, aqui por cima, no Polo I”, conta. Na altura, além de responsável pela portaria da Biblioteca Geral e por vários departamentos da UC, Filipe “abria e fechava” o Jardim Botânico, experiência que relembra considerar tão enriquecedora quanto assustadora. “De vez em quando apanhávamos lá uns sustos com alguns animais”, partilha. “Isto aconteceu uma vez, junto ao lago principal do jardim quadrado. Vinha distraído e, quando olhei para o lado, estava lá uma garça que, quando me viu, se assustou. É impressionante ver um animal daquele tamanho a abrir as asas. Mais tarde vim a saber que ela ia lá regularmente para comer os peixes”, recorda.
Em 2017, foi convidado a substituir um colega na portaria da FLUC e, desde então, nunca mais saiu. Adaptou-se sem grandes sobressaltos, “porque já conhecia grande parte dos colegas”. Afinal, uma era a tia e os restantes já tinham trabalhado com ele “noutros serviços da UC”. Ainda assim, recorda a surpresa que foi entrar numa Casa tão grande, sem saber por onde começar com tamanhas portas e tantas chaves para supervisionar. Hoje, enquanto verdadeiro guardião da FLUC, conhece melhor do que ninguém todos os recantos e segredos que esta Casa abriga. Daqui para a frente, assumirá também as funções de manutenção do espaço. Menos pessoas e mais equipamento. Embora “qualquer tarefa nova assuste sempre um pouco no início”, Filipe afirma adaptar-se a fazer “um pouco de tudo”. E, por isso, ter este grande prédio de sete andares que é a nossa Faculdade sob a sua alçada não o preocupa.
Pretende, também, continuar a dedicar-se àquilo que é a sua primeira Casa: a família. Quando não está na Aldeia de Almalaguês com a namorada ou o filho, com quem não se cansa de brincar, Filipe vai visitar os pais e a avó. Recentemente, descobriu ainda um novo hobby: cuidar da horta. “Comecei este verão a plantar algumas coisas, mas ainda tenho muito que aprender”, conta. Também gosta de pescar e, de vez em quando, dá umas voltas de bicicleta. “Mas sempre com calma, que as pernas já começam a pesar e o prazer de umas horas já não vale as dores de uns dias”, comenta num tom bem-disposto.

VIDAS DE ESTUDANTE
THÍASOS
Este "Vidas de Estudante" é especial. Desafiámos o Núcleo de Estudantes da FLUC para contar a história da Associação Cultural Thíasos, que começou em 1991. A partir de uma entrevista com a atual direção, o NEFLUC revela mais sobre este grupo que tem como missão dar a conhecer a um público alargado a lição tão atual do teatro de tema clássico.

Thíasos: três décadas a trazer a herança clássica para a atualidade
A cultura greco-latina tem sido amplamente discutida na atualidade, a sua importância tem sido cada vez mais evidenciada, tendo renascido, na cultura da juventude atual, a partir de livros, filmes e outros meios artísticos. Na cidade de Coimbra há estudantes que procuram mais do que esse renascimento e essa reinvenção: através do teatro, ligam o seu público a filósofos e escritores desse passado, mantendo a sua herança viva.
A Associação Cultural Thíasos, associação de Teatro Clássico da Faculdade de Letras, tem há cerca de 30 anos um papel relevante na adaptação de peças e textos filosóficos. Se, na sua génese, estiveram estudantes e professores de Estudos Clássicos, o grupo acolhe hoje estudantes dos mais diversificados cursos da FLUC e até de outras faculdades, interessados nas leituras e releituras do teatro clássico. Uma verdadeira casa para quem quiser.
De acordo com Fátima Sá Ferreira, investigadora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, e Vice-Presidente da Mesa da Assembleia do grupo, “o teatro é das melhores formas de transmissão cultural”. O Thíasos e o FESTEA [Festival Internacional de Teatro Clássico] estão precisamente integrados nessa dinâmica do Centro, da transmissão de saberes à comunidade, e é uma das melhores formas que nós temos de chegar a todos aqueles que não estudam a cultura nem as línguas clássicas, mas que se interessam por teatro e que, de alguma forma, se interessam por estes temas”.
Para Izabel de Rohan e Stéphanie Lopes, que integram a presidência do grupo, “a ideia inicial do Thíasos mantém-se na atualidade: adaptar peças clássicas para realmente poder ver como elas funcionavam na Antiguidade e como elas funcionam hoje em dia”. Imaginar como seria possível organizar todos os atores e todos os elementos no palco é um desafio que, acrescentam, explica o fascínio dos espectadores e a vontade de participação dos estudantes neste grupo: “De fazerem com as próprias mãos, de interpretarem aquelas personagens, produzirem e encenarem aquela produção. Até mesmo de interpretarem personagens maquiavélicas, e emprestar-lhes alguma humanidade, fazendo com que o público se identifique”.
O Thíasos consegue exibir e retratar algo que só se consegue ler e que, por isso, pode parecer muito complicado. Porém, quando alguém vê um ator a dar vida à personagem, as coisas acabam por ficar mais claras. Por outro lado, reler e reinterpretar os clássicos dá-nos a noção da sua extraordinária atualidade. As peças que chegaram até nós, gregas ou romanas, têm ainda relevância nos dias de hoje: “Quando a Medeia diz para o coro das mulheres de Corinto que prefere ir para a batalha diversas vezes do que uma só vez ser mãe, ela fala desse local da maternidade. Nós falamos sobre isso, sobre o papel da mulher na atualidade. Temos filósofos, como Lucrécio, que tratam de temas como o maltrato animal, o vegetarianismo e o veganismo. Esses são assuntos que parecem atuais, mas são discutidos há muito tempo! Então, quando reencenamos estas peças, estes textos, estas reflexões, na atualidade, é como se comprovássemos que essas pautas são merecedoras de atenção”, explica a Presidente do grupo.
Com cerca de trinta anos, o Thíasos deu vida a muitas personagens e histórias. Quanto a projetos futuros, sonhos e aspirações, o grupo está a trabalhar já no plano de adaptação de “Helena”, peça de Eurípides, assumindo o desafio de trazer o coro de volta, característica marcante do Teatro Greco-Romano. Quanto a planos de médio prazo, as estudantes confessam que gostariam de recuperar a internacionalização do grupo, que a pandemia de 2020 interrompeu: “Pré pandemia o Thíasos era um grupo, e pós (...) é outro. Fez muito mal a todos e o Thíasos não foi excluído disso. Antes o Thíasos viajava pela Europa fora, gostávamos de fazer isso novamente”.
Através das mais diversas histórias, este grupo diz respeito a algo maior: o ser humano. Demonstrar os sentimentos - a raiva, o amor, as paixões - faz-nos lembrar que não somos tão diferentes daqueles que estão separados de nós por séculos. Essas histórias, (re)contadas com mestria pela Associação, são a mais profunda e crua conexão com os antepassados, uma forma de difundir a empatia e entender que o conceito de evolução não é necessariamente linear, antes convida a revisitar tópicos e temas intemporais.
A vice-presidente Stéphanie Lopes e a presidente Izabel de Rohan.
A vice-presidente Stéphanie Lopes e a presidente Izabel de Rohan.
HOJE INVESTIGO EU
Miguel Bandeira Jerónimo

Como se constituíram os impérios coloniais modernos? Como foi possível perseverarem e até consolidarem-se, por vezes em condições adversas à sua sobrevivência, enfrentando resistências múltiplas, tanto de outros projetos imperiais e coloniais como das diversas comunidades locais nos territórios que procuravam ocupar e controlar?
Que atores mobilizaram e que instituições criaram para responder a esses desafios? Que ideologias mobilizaram e como as justificaram e disseminaram, tanto nas ditas metrópoles como nas colónias? Que sistemas culturais resultaram destas dinâmicas? E que repertórios e mecanismos de poder e formas de legitimação imaginaram e ativaram? Com que objetivos? E qual o grau de violência — material e simbólica — que daqui resultou, aspeto omnipresente na sua história? Que políticas de integração e exclusão e discriminação das diversas populações colonizadas implementaram, amiúde de forma desumana? E com que consequências, tendo em conta que algumas perduram até aos dias de hoje? Que regimes económicos, frequentemente baseados na exploração e no extrativismo, acompanharam estas formas de organização e hierarquização política e social, fazendo dos impérios coloniais agentes centrais da produção de desigualdades à escala global ao longo da história?
O que caracterizou cada um desses impérios — o português, o britânico, o francês, o espanhol ou o belga? E o que foi comum às suas trajetórias? É possível analisá-los de forma isolada, como se fossem histórias nacionais autónomas? Ou, pelo contrário, as suas histórias revelam-se necessariamente conectadas e interdependentes, pouco excecionais em qualquer aceção do termo? Se assim for, o que os aproxima e diferencia? Porquê e em que medida? E como o podemos estudar, de forma empiricamente fundamentada?
Mais. Qual foi o papel destes impérios coloniais na formação da história contemporânea? Que dinâmicas históricas os possibilitaram e condicionaram, e de que modo interagiram com outras formas de organização política, troca económica e interação cultural? Até que ponto foram atores de pleno direito nos principais processos históricos que definem a contemporaneidade — do internacionalismo e da criação de organizações internacionais à globalização (nas suas múltiplas expressões), à emergência histórica do regime dos direitos humanos e à afirmação, certamente turbulenta e por vezes ambígua no sentido, do direito à autodeterminação, para referir apenas estes exemplos? E como é que as principais dinâmicas da história contemporânea contribuíram para transformar os impérios coloniais, conduzindo à sua “reforma” e “modernização”, por exemplo, mas também à sua profunda e extensa militarização, em resposta às crescentes reivindicações de emancipação política, mas também económica, oriundas de diversos sectores e grupos, desde logo aqueles que por estes eram governados? Assim sendo, de que forma conduziram, especialmente no pós-Segunda Guerra Mundial, a um momento de descolonização global cujos efeitos ainda hoje se fazem sentir, não apenas nas sociedades diretamente envolvidas nas relações imperiais e coloniais, mas também nas estruturas políticas, económicas e culturais que moldam a ordem mundial dos nossos dias? É possível interrogar a contemporaneidade sem estudar os impérios coloniais? É possível compreender o mundo que nos rodeia sem estar ciente de que os impérios coloniais não são apenas passado? E é possível fazê-lo sem misturar, imprudentemente, história e memória?
A par de outras interrogações, estas questões têm orientado a minha investigação. Não necessariamente como fruto de um plano lógico, calculado e metódico, em resposta aos problemas relevantes dos campos de investigação em que trabalho, mas também, por vezes, como resultado do inesperado na abertura de uma caixa num qualquer arquivo ou da (relativa) indisciplina nas leituras e nos interesses. Ou como resultado, ainda e muito, da confrontação com a falta de conhecimento, minha, sobretudo, mas também de todos nós. Ou também como consequência da esplendorosa serendipidade, que nos devia arrastar ainda mais para as suas surpreendentes recompensas (e, sim, para exasperantes desafios).
Todas estas questões podem ter respostas sumárias e simplistas, e úteis a várias “causas”. Mas nenhuma delas é suficiente, fundamentada ou convincente. Ou estimulante. Elas exigem constante investigação, leitura, crítica e revisão, escrita e rescrita. Erro e erro. Individualmente, mas também, felizmente, em trabalho colaborativo regular, com colegas nacionais e estrangeiros (no meu caso, a quem tanto devo). Na verdade, Hoje investigamos nós.
Na verdade, Hoje investigamos nós.
Miguel Bandeira Jerónimo
Professor Associado de História, Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes/Investigador do Centro de História da Sociedade e da Cultura.
MUNDIVISÕES
Francisco Sena Santos

Participei numa aula de apresentação de trabalhos finais de alunos na unidade curricular Introdução ao Multimédia, conduzida pela professora Clara Almeida Santos. Aquela sessão, há três semestres, mexeu comigo. Contribuiu para crer que há gente a crescer com criatividade competente para afugentar mais as nuvens pesadas que pairam sobre os tempos próximos do jornalismo.
Encontrei ali gente embrenhada na floresta encantada das histórias que vale contar. Deparei com uma Praça da República de histórias bem pensadas, bem desenvolvidas por gente treinada e apetrechada para aplicar ao jornalismo e à comunicação as ferramentas proporcionadas pela multimedialidade. Percebi que aqueles estudantes têm bases técnicas robustas e estão treinados para pensar também como virar do avesso aquilo que merece ser contado. Com ou sem poesia, com competência. E entusiasmou-me a crítica fina na discussão entre docente e estudantes.
Aquela manhã num anfiteatro dentro das paredes espessas do edifício principal da FLUC mostrou-me a modernidade, mesmo vanguarda, que se deseja ser complementar dos alicerces de conhecimento que são essência do ensino superior.
Confirmei em modo mais amplo a impressão que já me tinha entrado em ocasiões anteriores, designadamente nas sessões de formação da redação multimédia que fez cobertura do 5.º Congresso dos Jornalistas, que decorreu entre 18 e 21 de janeiro de 2024. Esta redação foi formada nos três meses anteriores ao congresso, com envolvimento de estudantes da larga vintena de escolas superiores onde em Portugal se ensina o jornalismo e a comunicação. Coube-me integrar a equipa de coordenação dessa redação. Constatei como, logo nas ações descentralizadas de organização dessa redação, o grupo de alunos/as da UC deu nas vistas. Depois, nos quatro dias de acompanhamento do congresso, no São Jorge, em Lisboa, o grupo de estudantes da Universidade de Coimbra, conduzido pelos professores Carlos Camponez e João Miranda, haveria de evidenciar qualidade com competência eclética. Tanto que, entre os 120 estudantes participantes, a Ana Filipa Paz, da FLUC, foi uma das duas escolhidas para representar esta redação de estudantes no número 83 da revista Jornalismo & Jornalistas (página 57), do Clube de Jornalistas, no relato do Congresso.
Voltando ao princípio: após aquela aula da professora Clara Almeida Santos fiquei com muita vontade de galgar a ladeira que leva à FLUC. Quando o desafio surgiu, claro que o agarrei com o grande gosto de me juntar a uma equipa que vai na frente.
Passei os últimos 20 anos a juntar ao ofício de jornalista a tarefa, exaltante, de trabalhar com estudantes de jornalismo, na ESCS, em Lisboa, o modo de apresentar o jornalismo e, sobretudo, a reportagem jornalística, em modo de fala humana, com recurso a mais do que a mesma língua, a mesma linguagem, com verbo rítmico, expressivo e preciso, com agilidade sintática, com elegância, com coloquialidade na dose certa e com a melhor inovação narrativa para o máximo rigor possível no relato. Guardo excelente memória desta tarefa e os resultados práticos são estimulantes.
Apetece alargar e afinar horizontes. É o que a FLUC está a proporcionar. No segundo semestre do ano letivo 23/24, partilhei com o professor João Miranda a unidade curricular do Mestrado que trata o jornalismo internacional e o cultural. Diz-se que há algum deus que protege os repórteres audazes, se calhar há outro que trata de colocar na atualidade temas apetecíveis para a formação dos estudantes. Por um lado, a exploração dos labirintos dos cenários de guerras, com movimentos que puxam uma nova ordem internacional, por outro a realização em Coimbra da 5.ª edição da Bienal de Arte de Coimbra / anozero, foram pretextos riquíssimos.
É exemplar a dedicação dos alunos na procura de formas e ângulos envolventes para contar a Bienal. Não tem conta a quantidade de vezes que muitos dos estudantes, alguns deles Erasmus muito motivados, subiram ao Museu de Santa Clara-a-Nova, fosse para fixar outras imagens, para captar paisagens sonoras, para filmar alguma sequência ou escutar em entrevista um outro dos artistas. O conjunto de trabalhos finais é excelente.
Um dia, alguém adaptou um poema de Gedeão: as gentes às vezes tristonhas passam alegres no autocarro.
Contestei, não vejo tristezas, sente-se essa alegria nos estudantes na FLUC.
Volto ao multimédia. Pude por estes dias ver vídeos criados por estudantes da UC. Apetece recomendá-los a algum festival de cinema.
Francisco Sena Santos
Jornalista e Professor convidado da FLUC
MARCAS DAS LETRAS
Fernando Trindade

Na Faculdade de Letras, tirou o Curso de Filosofia e esteve na génese do processo de criação do mestrado integrado em ensino por aqui. Fernando Trindade é o diretor do Agrupamento de Escolas da Mealhada (onde já ocupou a presidência dos conselhos diretivo e executivo) que hoje reúne cerca de dois mil estudantes. Este professor de Filosofia falou com o Magazine Vive as Letras! e deu conta das muitas "Marcas das Letras" que carrega no seu quotidiano.
"Estou desde sempre na Educação, desde que acabei o Curso, já são 32 anos", conta Fernando Trindade numa entrevista marcada por reflexões sobre ensinar e aprender. Sabia que queria estudar em Coimbra e a Filosofia não foi a primeira opção deste albicastrense que escolheu Psicologia e, como não ficou colocado, optou por Química que frequentou por dois anos, quando resolveu escrever ao Reitor da Universidade de Coimbra a dizer que achava que era muito mais produtivo se pudesse fazer um curso de Filosofia: "E foi-me concedida a vaga, extraordinariamente!", relembra. Durante o percurso académico, entendeu que a docência se projetava como futuro profissional, o que o levou a um caminho mais longo: "Eu fiz uma licenciatura em Filosofia e depois fiz uma segunda licenciatura de 2 anos de profissionalização em ensino da Filosofia, de maneira que tive que pagar 2 diplomas! E sim, foi um processo, às vezes conturbado, aquele era um momento de muitas mudanças. Durante umas jornadas culturais que a Faculdade de Letras organizava, eu e outros estudantes iniciámos um processo que resultou nos ramos de formação integrada dos estágios integrados", explica.
Trindade vinca, ainda, a importância de dois docentes na sua formação: "Fernanda Bernardo e António Pedro Pita foram autênticos mestres no sentido literal do termo e que são, ainda hoje, fonte de inspiração". O curso de Filosofia permitiu-lhe desenvolver um enorme gosto pelo rigor absoluto "no que toca ao conceito de trabalhar as ideias e na maneira como faço as coisas - e eu não estou a dizer que as faço bem! Necessariamente não as posso fazer... a questão não é essa. Agora, tenho essa consciência, essa exigência, e que me dá satisfação perceber quando consigo, efetivamente. E depois há outra coisa muito importante que aprendi no meu curso: o gosto pela oralidade, pela oratória, sentir-me capaz de passar uma mensagem que preciso passar e que tenho que passar, e isso foi claramente resultado da minha passagem pela Faculdade de Letras", revela.
Sobre a importância das Letras, Fernando Trindade explica que a área traz um movimento do saber e do conhecimento que dá para outras coisas, nomeadamente para as ciências. Diz que não vê outra maneira de pensar que não através do diálogo histórico, sobretudo com as Humanidades (e com a Filosofia em particular) e coloca as questões: que valor é que ainda damos ao pensamento num tempo em que há tanta informação, ou melhor, tanta desinformação? Em que se confunde a informação com conhecimento e que não se sabe distinguir conhecimento de saber, que é o risco maior que nós corremos neste momento.
Trindade mostra-se preocupado com este "estado de grande alienação, para não dizer de uma perigosíssima e assustadora alienação, em que estamos. Em que se está permanentemente dependente de estímulos supostamente resultantes de informações, em que, literalmente, não há tempo nenhum para pensar no que quer que seja, e isso é preocupante, assinala uma certa falência, vamos chamar-lhe desumanidades". Sugere, por outro lado, que "quem mais deveria estar convocado para se pronunciar sobre o que está a acontecer são, sobretudo, as Humanidades" e confessa que é raro o dia em que não se incomoda com isto. Para o final, ficou o tempo como um pensamento especial para os estudantes e professores de Filosofia: "Nós temos um problema de tempo seríissimo e os filósofos que estão a ler-me vão entender particularmente bem esta preocupação - não estou a falar de tempo em quantidade, acho que temos mesmo um problema de tempo e não sei como é que nos livramos dele, mas acho que podemos começar a pensar, e pensar no problema é o início".

PHOTOMATON
Vida da FLUC de outubro a dezembro de 2024
Última Lição de Irene Vaquinhas, Professora Catedrática do Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes: "O acesso das mulheres às universidades: uma perspetiva diacrónica e transnacional"
Última Aula de João Figueira, Professor Auxiliar do Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação: “Há margem de certa maneira: uma deambulação com o jornalismo criador de humanidades”
15.ª edição do Prémio Joaquim de Carvalho atribuído à obra A Oficina de Gil Vicente de José Augusto Cardoso Bernardes
Sandra Costa Saldanha, Professora Auxiliar do Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes, é a nova diretora do Museu Nacional Machado de Castro
Colóquio “Miles et Bellum", em homenagem a João Gouveia Monteiro, Professor Catedrático do Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes
Exposição biobibliográfica assinala os 90 anos de Jorge Alarcão, Professor Catedrático aposentado da Secção de Arqueologia
Prémio "Outstanding Publication Award" de 2024 atribuído a José Oliveira Martins, Professor Auxiliar do Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes
Simpósio a partir do livro The Transformation of Reason: System, Myth, and History in German Idealism de Diogo Ferrer, Professor Associado do Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação
Apresentação da obra Neste lugar, a sagrada Hélade Salvámos, em homenagem a Luísa de Nazaré Ferreira
Colóquio internacional "Argumentation in the 21st Century. The challenges: people, societies and cultures”, organizado pelo Instituto de Estudos Filosóficos
Congresso internacional "Estética e Ética da Natureza”, organizado pelo Instituto de Estudos Filosóficos
10.º Colóquio DIAITA Luso-Brasileiro de Património, História e Culturas da Alimentação, organizado pelo Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos
18.ª edição do Colóquio Ibérico de Geografia, coorganizado pelo Departamento de Geografia e Turismo
Seminário internacional "Inteligência Artificial e Dados Pessoais – um debate interdisciplinar”, organizado pelo Departamento de Geografia e Turismo
7.ª edição do Workshop de Pós-Graduação em Ciência da Informação: sessão dedicada à Organização do Conhecimento, organizada pelo Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação
Sessões do Ciclo Literatura & Etc. organizado pelo Centro de Literatura Portuguesa
Encontro “AGZ pequenas explosões: leitura mista e escrita composta”, em homenagem ao 10.º aniversário da morte de Álvaro García de Zúñiga
Conferência “A Racionalidade Hermenêutica e o Futuro das Humanidades”, organizada pelo CECH
Instituto de Estudos Ingleses
Salas de aula requalificadas
Gabinete de docentes
Instalação de ecrã LED no Teatro Paulo Quintela
Última Lição de Irene Vaquinhas
Última Lição de Irene Vaquinhas
Última Aula de João Figueira
Última Aula de João Figueira
José Augusto Cardoso Bernardes recebe Prémio Joaquim de Carvalho
José Augusto Cardoso Bernardes recebe Prémio Joaquim de Carvalho
Sandra Saldanha é a nova diretora do Museu Nacional Machado de Castro
Sandra Saldanha é a nova diretora do Museu Nacional Machado de Castro
João Gouveia Monteiro é homenageado no Colóquio “Miles et Bellum"
João Gouveia Monteiro é homenageado no Colóquio “Miles et Bellum"
Exposição assinala os 90 anos de Jorge Alarcão
Exposição assinala os 90 anos de Jorge Alarcão
Prémio "Outstanding Publication Award" atribuído a José Oliveira Martins
Prémio "Outstanding Publication Award" atribuído a José Oliveira Martins
Simpósio a partir do livro The Transformation of Reason: System, Myth, and History in German Idealism de Diogo Ferrer
Simpósio a partir do livro The Transformation of Reason: System, Myth, and History in German Idealism de Diogo Ferrer
Homenagem a Luísa de Nazaré Ferreira
Homenagem a Luísa de Nazaré Ferreira
Colóquio "Argumentation in the 21st Century. The challenges: people, societies and cultures”
Colóquio "Argumentation in the 21st Century. The challenges: people, societies and cultures”
Congresso "Estética e Ética da Natureza”
Congresso "Estética e Ética da Natureza”
Colóquio DIAITA Luso-Brasileiro de Património, História e Culturas da Alimentação
Colóquio DIAITA Luso-Brasileiro de Património, História e Culturas da Alimentação
Colóquio Ibérico de Geografia
Colóquio Ibérico de Geografia
Seminário "Inteligência Artificial e Dados Pessoais – um debate interdisciplinar”
Seminário "Inteligência Artificial e Dados Pessoais – um debate interdisciplinar”
Workshop de Pós-Graduação em Ciência da Informação
Workshop de Pós-Graduação em Ciência da Informação
Sessões do Ciclo Literatura & Etc. "Literatura e Erotismo"
Sessões do Ciclo Literatura & Etc. "Literatura e Erotismo"
Sessões do Ciclo Literatura & Etc. "Literatura e Bibliotecas"
Sessões do Ciclo Literatura & Etc. "Literatura e Bibliotecas"
Encontro “AGZ pequenas explosões: leitura mista e escrita composta”
Encontro “AGZ pequenas explosões: leitura mista e escrita composta”
Conferência “A Racionalidade Hermenêutica e o Futuro das Humanidades”
Conferência “A Racionalidade Hermenêutica e o Futuro das Humanidades”
Requalificação e recatalogação da Sala do Instituto de Estudos Ingleses
Requalificação e recatalogação da Sala do Instituto de Estudos Ingleses
Requalificação da Sala Fernandes Martins (C.S.Jerónimo)
Requalificação da Sala Fernandes Martins (C.S.Jerónimo)
Requalificação de salas de aula (1 a 13)
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Sala 11 (piso 6)
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Renovação de gabinete de docentes (piso 7)
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Renovação de gabinete de docentes (C.S.Jerónimo)
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Instalação de ecrã LED no Teatro Paulo Quintela
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